Esporte amador: Quando o perigo ronda sua diversão

16/07/2018 09:18:00

Aquela pelada de final de semana com os amigos, ou as caminhadas, oferecem riscos à saúde se não forem orientadas

"Nos preocupamos com a saúde um dos outros para evitar acidentes e poder tomar aquela cervejinha juntos", disse Luciano Teófilo(Foto: Matheus Urenha / A Cidade)
Há mais de 25 anos o comerciante Luciano Teófilo, 52, participa da "turma da segunda", um grupo de amigos que se reúne toda noite de segunda-feira para jogar futebol em um campo do condomínio de chácaras Recreio Internacional, na zona Leste de Ribeirão Preto. 

Responsável por organizar a confraternização semanal, que visa o alívio do estresse cotidiano, Teófilo também se preocupa com a saúde física sua e dos demais "peladeiros", com idades entre 40 e 55 anos. Mas nem sempre foi assim.  

"Já deixei de aquecer antes de um jogo e sofri o rompimento de um tendão da perna esquerda. Também já tive problema no joelho, que me fez ficar um bom tempo afastado. Passei por tratamentos médico e fisioterápico", conta o comerciante, que descobriu da pior forma o acerto de um conselho dado sempre pelo educador físico Hamilton dos Reis Miranda: "jamais entre dentro de campo e saia chutando a bola de primeira. Isso pode causar uma grande lesão no músculo da coxa, por exemplo." 

De acordo com o profissional, é de grande importância realizar exercícios de alongamento e aquecimento antes de iniciar qualquer esporte, mesmo amador, como as chamadas "peladas de fins-de-semana". Eles minimizam bastante o risco de lesões.  

"Você precisa trabalhar sua musculatura e informar o musculo que vai precisar usá-lo. O ideal é sempre realizar uma corridinha antes do jogo e flexionar muito bem os membros inferiores e a parte posterior da coxa", ensina o educador físico.  

Hoje, Teófilo garante que faz uma preparação física adequada antes de começar a jogar. "Procuro realizar um aquecimento e alongamento durante 15 minutos antes dos jogos. Se possível, também realizamos uma corrida. Tento passar esta informação também aos demais companheiros da turma", conta.  

(Neto Túbero com supervisão de Silvia Pereira)
 
Pode custar caro! 

Por considerar os colegas de "pelada" como família, o comerciante Luciano Teófilo diz que sempre tenta passar informações sobre a importância de se preparar antes de praticar o esporte. Mas nem sempre seu conselho é seguido. "Muita gente trabalha viajando e chega a Ribeirão quase na hora do jogo. Acaba não dando tempo e a pessoa já inicia o bate-bola. Já tivemos diversos problemas por conta disso: estiramentos, lesões, algumas delas até mais sérias, como no joelho, por exemplo", relata.  

De fato, de acordo com o fisioterapeuta Ricardo Andréo Junior, lesões no joelho, rompimentos de tendões e rupturas musculares estão entre os diagnósticos mais comuns em atletas amadores. A maioria poderia ser evitada com acompanhamento médico e reforço muscular).  

Para ele, um dos maiores erros de uma pessoa que joga futebol aos finais de semana é pensar que pode ter a mesma resistência de um atleta profissional, por exemplo.   

"São estruturas musculares totalmente diferentes. Uma simples pancada no joelho em um atleta amador pode causar o rompimento dos ligamentos, que não estão preparados para receber o impacto. Isso pode tirá-lo de atividade por seis meses a um ano", diz o profissional.

Acompanhamento  

Segundo o fisioterapeuta, a melhor maneira de evitar lesões ao praticar qualquer esporte, mesmo de forma amadora, é acostumar o corpo à rotina de exercícios.  

"O ideal é, sempre que for iniciar uma atividade física, procurar profissionais especializados: cardiologistas, educadores físicos e fisioterapeutas", orienta.   

"Uma maneira de reforçar sua musculatura é frequentar academias, mas até mesmo exercícios de rua, como caminhadas e atividades em praças, ajudam a pessoa ganhar um reforço muscular. Isso ajuda o desenvolvimento do corpo", acrescenta.  

O educador físico Hamilton dos Reis Miranda concorda e vai além: "cerca de 8% da população que não procura um especialista sofre algum problema durante a prática de atividade física. Em alguns casos extremos são relatadas mortes", alerta.

Adaptação  

Ele destaca ainda a necessidade de acompanhamento especializado também durante a prática de qualquer esporte, pois todos demandam um período de adaptação do corpo. Um profissional saberá orientar esse processo de forma personalizada.  

"São três os passos para dar início a um esporte. O certo é iniciar com uma atividade de baixa intensidade. Depois, já adaptado e condicionado, iniciar uma atividade aeróbica de alta complexidade, como uma corrida ou uma pedalada. Por último, um reforço muscular para garantir um melhor desempenho do atleta", ensina o profissional.  

Quando a omissão pode ser fatal  
 
O cardiologista é outro profissional obrigatório para o interessado em iniciar a prática de um esporte. De acordo com o cardiologista coordenador da divisão de arritmia cardíaca do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Marcelo Garcia Leal (foto), o risco de uma atividade física sem o devido acompanhamento pode ser fatal.   

"As doenças do coração muitas vezes são silenciosas. Todos os dias a morte súbita faz vítimas pelo mundo. A pessoa não demonstra nenhum tipo de sintoma ou problema... ela se sente bem. É como se fosse um choque fatal, muitas vezes provocado pelo esforço físico. A faixa etária mais atingida é a de pessoas acima dos 40 anos", esclarece o médico. 
 
Segundo ele, não só atletas de finais de semana, mas qualquer pessoa, a partir dos 40 anos, deve realizar consultas e exames periódicos com um cardiologista.  

"Principalmente que possui na família histórico de mortes por doenças no coração. São doenças hereditárias e todo cuidado deve ser tomado", diz Leal.  

Para descobrir como a pessoa está "por dentro", o profissional pede exames, como o eletrocardiograma. A partir deles descobre se existe problema e alguma precaução a ser tomada. "Para pessoas que vão iniciar algum esporte até mesmo exames em esteiras elétricas são realizados para acompanhar o desenvolvimento de seu corpo na hora da atividade física", conclui o profissional.  

Cuidados para jogadores amadores:

Cuidados para jogadores amadores (Fontes: Moisés Cohen, professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp - Universidade Federal de São Paulo, Ricardo Munir Nahas, ortopedista médico do esporte e coordenador do Centro de Medicina do Esporte do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, Guilherme Sangirardi, cardiologista da Unifesp



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