'Corpo a corpo' é arma para vacinar e informar população

15/07/2018 11:48:00

Agentes comunitários de saúde batem de porta em porta para alertar munícipes da importância das vacinas

Juliana Trindade leva os filhos para vacinar (Foto: Weber Sian / A Cidade)
 

Para enfrentar a diminuição da taxa de vacinação, algumas unidades de saúde municipais apostam no reforço do corpo a corpo: funcionários vão de porta em porta para convencer as famílias da importância da imunização, além de combater boatos e desinformação.  

Na USF (Unidade de Saúde da Família) da Vila Albertina, na zona Norte, 21 agentes de saúde da Prefeitura participam da "busca ativa" aos 20 mil moradores de sua área de abrangência.  

"Recentemente, os funcionários encontraram a mãe de uma criança com menos de um ano que se negava a vaciná-lo. Dizia que a vacina estava estragada e faria mal ao filho. Enfermeiras foram até sua casa e a convenceram da importância da vacinação", explica a gerente da USF, Elaine Pastorelli.  

Segundo a gerente, as mães também estão reclamando da quantidade de vacinas.  

"Mas eu já vacinei meu filho tantas vezes, elas dizem", duvidando da necessidade dos reforços vacinais ou com pena das crianças. Do nascimento ao um ano de vida, as crianças recebem 18 imunizações (por meio das injeções ou oral).  

Por isso, os profissionais de saúde explicam a necessidade do cumprimento integral do calendário de vacinação no município.  

A Cidade analisou a folha de pagamento da Prefeitura desde 2015 e verificou que, nos últimos 3 anos, o município manteve em média 310 agentes comunitários de saúde. Nesse período, a população (incluindo não usuários do SUS) aumentou em 20 mil habitantes, segundo o IBGE. Elaine explica que os adultos também estão reticentes em cumprir o próprio calendário de vacinação como a de gripe, que tanto em Ribeirão quanto no país está com cobertura do público alvo abaixo da meta. 

Poder público oculta dados

O Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado da Saúde dificultam que a sociedade fiscalize a cobertura vacinal nos municípios. O governo federal disponibiliza, em seu portal, apenas dados de cobertura vacinal de sarampo e poliomielite até 2014. Por conta disso, foi alvo na semana passada de um ofício enviado pelo Ministério Público Federal cobrando atualização dos dados. A Cidade pediu, ao Ministério, dados da cobertura vacinal dos municípios paulistas, mas o órgão alegou que a demanda deveria ser redirecionada ao governo estadual. A secretaria de Estado da Saúde, por sua vez, embora tenha em seu banco de dados o monitoramento da cobertura vacinal dos municípios, informou ao A Cidade, por meio da assessoria de imprensa, que a reportagem deveria questionar cada prefeitura para ter as informações locais.  

Juliana ignorou boatos no face  

Na quinta-feira (12), a operadora de caixa Juliana da Silva Trindade (foto) foi até a USF da Vila Albertina vacinar os filhos Maria Luiza, de 4 anos e meio, e o João Lucca, de 4 meses. Ambos receberam imunização contra poliomielite, seguindo o calendário de vacinação. Para levá-los, Juliana ignorou boatos que circularam pelas redes sociais. Ela diz que, em grupos fechados do Facebook como de venda e compra de objetos frequentemente há textos compartilhando boatos sobre vacinas.  

"Há muita bobagem, gente dizendo que vacina faz mal para crianças, que elas terão recaídas. Eu não acreditei, prefiro confiar em quem é profissional de saúde", afirmou ao A Cidade.

Campanha de vacinação 

A partir desta segunda-feira (16), começa uma campanha nacional de vacinação contra sarampo. O foco inicial são pessoas entre 5 e 29 anos que não receberam as duas doses no período adequado (aos 12 meses e aos 15 meses de vida). Depois, a partir de 6 de agosto, o foco da campanha serão crianças de 1 a 5 anos que nunca foram vacinadas e incluirá, também, a poliomielite.  

Na semana passada, a Prefeitura de Ribeirão Preto anunciou que, há três meses, foi diagnosticado um caso de sarampo em adulto no município o primeiro da último década. A vítima foi uma médica que passou mal na cidade após retornar do Líbano ou seja: a doença foi contraída fora do país.  

Segundo a secretaria de saúde, ela foi internada, recebeu tratamento e teve alta. O município afirma que não houve contágios de terceiros. 

MPF questiona prefeituras  

Na semana retrasada, o Ministério da Saúde divulgou lista com 312 municípios que tinha vacinado menos de 50% das crianças com até 1 ano contra poliomielite. Da região de Ribeirão Preto, estavam Franca (24%), Guariba (32%) e Jaboticabal (45%). Todas seriam oficiadas pelo Ministério Público Federal a tomar medidas para aumentar imunização. O Governo Federal considera que a cobertura ideal é de 95%.  

Em nota, o prefeito de Guariba informou que a taxa ficou abaixo do preconizado devido a problemas técnicos na atualização do banco de dados informatizado do Ministério da Saúde, mas que a taxa de cobertura real é de 95% no município.  

Justificativa semelhante enviou a prefeitura de Franca, afirmando que "houve foi uma falha no armazenamento dos dados do Ministério da Saúde" e que a cobertura de poliomielite está na faixa dos 66,3%. O governo local diz que está realizando "intensa divulgação" da necessidade de vacinação.  

Jaboticabal, por sua vez, assumiu que a taxa está em 45%, e justificou que se deve ao "desinteresse dos responsáveis" pelas crianças. A prefeitura disse que irá "reforçar a campanha de conscientização mais uma vez".  

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