Moradores clamam por passarela sobre linha férrea em Ribeirão Preto

22/05/2018 14:12:00

Relatos são de transtornos e riscos na Vila Elisa, zona Norte Ribeirão Preto; empresa que controla ferrovia diz que há projeto em análise com a prefeitura

Moradores reivindicação construção de passarela sobre linha férrea (Fotos: Weber Sian / A Cidade)
 

Moradores da Vila Elisa cobram uma solução para um problema crônico na travessia da linha férrea que passa pelo bairro, na zona Norte de Ribeirão Preto.

Além de transtornos para chegar ao trabalho e buscar serviços de saúde e bancários, por exemplo, eles relatam perigo com pessoas que se arriscam na travessia pela linha do trem.

O porteiro Genivaldo da Costa Santos, 29, diz ter sido testemunha ocular de cenas que quase acabaram em tragédia.

"O trem para, as pessoas querem atravessar, não conseguem e vão arriscar passar entre os vagões", relata.

"Muita criança passa aqui entre os vagões. Uma vez, o trem quase atropelou um menino que ia para o serviço logo pela manhã", conta o marceneiro Antônio Nascimento, 52.

Além do risco, há relatos de problemas estruturais nas casas próximas à linha.

"Essa linha treme a terra e até racha as casas. Se tivesse um acesso para o outro lado já facilitaria muito e valorizaria o imóvel", comenta Santos.

O morador Diogo Pedro da Silva, 30, conta que também vê muitas crianças atravessarem pelos trilhos. "Uma hora um trem desses mata uma", alerta.  



O marceneiro Nascimento diz que trabalhadores chegam a perder o horário de entrada na empresa por conta da travessia na linha férrea.

"Muitas vezes já vi gente atravessando entre os vagões do trem com bicicleta. Tem gente que perde até o horário ou chega atrasado porque o trem está parado aqui", afirma.

"O pessoal que trabalha no Tanquinho, na Vila Brasil fica muito tempo parado esperando o trem, quase uma hora para passar com mais de 100 vagões", diz o morador Silva.

A dona de casa Celma Rozana Aguiar, 53, que reside na Vila Elisa há 30 anos, cita que o mato alto ao lado da ferrovia esconde armadilhas, como valetas.

"Em 2003 fui atravessar aqui com uma bicicleta, um cara estava escondido, correu atrás de mim, cai na valeta e cortei o queixo", conta.

Ela relata que até chegou a perder uma consulta médica porque não conseguiu atravessar a linha férrea.

"O trem para aqui e fica mais de três horas para a gente atravessar. Perdi a consulta porque tinha que pegar ônibus na avenida Saudade. O trem estava parado, como eu ia passar? Teria que tirar a linha daqui e abrir uma passagem", reclama.

Além desse transtorno, a moradora conta que a buzina do trem assusta no período noturno.

"Essa linha aqui só atrapalha. Tem muito barulho. À noite, buzina alto que a gente acorda", comenta.

 

Morador Genivaldo Costa reclama dos transtornos da linha férrea (Foto; Weber Sian / A Cidade)
 

Deslocamento longo

O presidente da Associação dos Moradores da Vila Elisa, José Mouzart Pereira, 65, diz que os únicos dois acessos ao bairro são pelas avenidas Thomaz Alberto Whatelly e Costa e Silva. Pela Thomaz Aberto, por exemplo, Pereira afirma que o deslocamento chega a ser de aproximadamente cinco quilômetros.

Ele conta também que, além da Vila Elisa, a linha férrea causa transtornos para outros cinco bairros próximos Vila Mariana, Tanquinho, Vila Carvalho, Quintino Facci I e Quintino Facci II.

"Reivindicamos uma melhoria para moradores, comerciantes e empresários. A gente não consegue deslocar de um bairro para o outro. Você vai atravessar tem que andar cinco, seis quilômetros. A região Norte, toda a vida, foi uma região abandonada", reclama.

A associação conseguiu reunir em 2016 aproximadamente 180 assinaturas em um abaixo-assinado protocolado com uma representação no Mistério Público (MP) em Ribeirão, mas que foi arquivado pelo promotor da Habitação e Urbanismo à época, Edward Ferreira Filho (leia mais abaixo).

Para José Pereira, a construção de um viaduto na rua Argentina seria o ideal.

Ele diz que um levantamento realizado pela associação há pelo menos cinco anos indicou oito mil moradores naquela região.

"Daí para cá, entrou muito mais pessoas e nada foi feito. É uma beira de linha abandonada. São seis empresários que controlam isso aqui e vem para cá álcool e açúcar, nada mais. Se não consegue retirar [a linha férrea], pelo menos faz as melhorias para o povo atravessar de um bairro para o outro. Da maneira como está não podemos ficar, chega", diz.

Outro lado

A Promotoria da Habitação e Urbanismo de Ribeirão Preto informou, por telefone ao ACidade ON, que a representação da Associação dos Moradores da Vila Elisa foi indeferida e arquivada no ano passado.

O presidente da associação afirma não ter recebido qualquer resposta sobre essa representação.

O MP, contudo, informa que enviou carta e deu um prazo de dez dias para que a associação recorresse, mas o recurso não foi apresentado.

ACidade ON questionou o Ministério Público (MP) de São Paulo, por meio da assessoria de imprensa, sobre os motivos que levaram o promotor Edward Ferreira Filho a arquivar a representação, mas não obteve retorno.

Projeto

A empresa VLI, que controla a Ferrovia Centro-Atlântica, informa, por meio de nota de imprensa, que elaborou um projeto de construção de uma passagem de pedestres nas ruas Guarani e Equador e que a proposta esta sendo tratada junto à Prefeitura de Ribeirão Preto.  

Sobre o mato alto ao lado da ferrovia, a empresa diz que realiza a limpeza no local com regularidade.

"O local citado recebeu o serviço no fim de 2017 e a região será contemplada novamente nas próximas semanas. Atualmente, o trecho situado no bairro Simioni recebe essa manutenção. É importante ressaltar que a operação ferroviária não gera lixo e no local apontado ocorre o despejo irregular de resíduos. O volume de materiais em algumas áreas tem superado o serviço de limpeza. Por isso, a ferrovia também realiza campanhas de segurança ao longo do ano que destacam os riscos e transtornos causados pelo descarte irregular de resíduos sólidos na linha", diz a nota.

Em relação ao barulho causado pela buzina dos trens, a empresa esclarece que "é um item utilizado para sinalizar e alertar a população da passagem do trem de modo a evitar ocorrências".  

Por fim, a empresa afirma estar aberta para avaliar eventuais iniciativas do município para a melhoria da mobilidade urbana, entre outros temas.

ACidade ON questionou a Prefeitura de Ribeirão Preto sobre o projeto citado pela VLI para a construção de uma passagem de pedestres e aguarda um posicionamento.
 





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