Terceira etapa da cirurgia para separação dos crânios deverá ocorrer na primeira semana de agosto
As irmãs siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 1 ano e dez meses, que passaram pela segunda cirurgia para separação dos crânios no último sábado (19), passam bem e devem ter alta da UTI Pediátrica do HC (Hospital das Clínicas) nesta terça-feira (22).
Segundo Ana Paula Carlotti, coordenadora da UTI Pediátrica do HC, as irmãs não apresentam nenhum déficit relacionado à cirurgia. Elas se movimentam, se comunicam e se alimentam normalmente.
"Elas estão muito bem, respiram sem ajuda de aparelhos, têm sinais vitais normais, sem necessidade de medicamentos para manter a pressão e os batimentos cardíacos", destacou. A cirurgia teve início às 7h com a equipe de anestesistas e foi encerrada às 15h. O neurocirurgião Hélio Rubens Machado, chefe da Divisão de Neurocirurgia Pediátrica do HC, explicou que, na segunda cirurgia, continuou a ser feita a separação das veias dos dois cérebros entrelaçadas.
"Nossa expectativa é que a terceira etapa da cirurgia seja realizada na primeira semana de agosto", declarou. Segundo ele, é necessário um tempo mínimo de seis semanas entre um procedimento e outro para os cérebros se acostumarem às intervenções.
Assim como nas duas primeiras fases, o neurocirurgião americano James Goodrich participará da próxima etapa. Essa é a 12ª cirurgia do tipo em que o neurocirurgião atua. Na terceira fase, a equipe espera finalizar a separação das veias dos dois cérebros entrelaçadas.
Tecnologia de ponta tem sido utilizada tanto na fase pré-cirúrgica como no decorrer do procedimento. O neurocirurgião pediátrico do HC, Ricardo Santos de Oliveira, detalhou que, antes da cirurgia, são mapeadas as áreas onde serão feitas as intervenções. "Durante o procedimento utilizamos um neuronavegador, espécie de GPS que traz a localização exata dos pontos", destacou.
A equipe da segunda etapa da cirurgia foi composta por 25 profissionais: sete neurocirurgiões, três cirurgiões plásticos, cinco anestesistas, oito enfermeiros, um tecnólogo e o diretor do centro cirúrgico.
Última etapa está prevista para novembro
A quarta e última etapa da cirurgia para está prevista para ser realizada em novembro. Deverá ser o procedimento mais demorado e complexo, já que será feita a separação final dos crânios, o que inclui a cirurgia plástica de reconstrução.
Segundo Jayme Farina Junior, chefe da Divisão de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina da USP e membro da equipe da cirurgia, será necessária a utilização de expansores na finalização do procedimento porque os cérebros das siamesas estão muito próximos.
"O expansor é uma bexiga de silicone que expande como um balão e a pele ganha mais área. Mas mesmo assim vamos precisar retirar pele da coxa para recobrir a região da nuca das meninas, daí serão feitos enxertos", explicou o médico.
Cirurgia custa mais de R$ 9 milhões nos EUA
A cirurgia de separação de crânios de siameses custa 2,5 milhões de dólares nos Estados Unidos, o equivalente a mais de R$ 9 milhões. Para fazer a cirurgia no HC, no entanto, a família das irmãs siamesas não pagará nenhum centavo.
Os custos da cirurgia estão sendo bancados pela Secretaria de Estado da Saúde do Ceará e pelo Hospital das Clínicas.
O diretor do Departamento de Atenção à Saúde do HC, Antonio Pazin Filho, estima que os cálculos ainda estão sendo feitos, mas o custo da cirurgia não deverá passar de R$ 200 mil entre materiais e equipamentos.
"Queremos construir modelos iguais a esse para planejar futuras cirurgias, não só de crianças iguais a essas, mas de outras situações complexas que o SUS [Sistema Único de Saúde] precisa incorporar", afirmou.