Alunos do Moura Lacerda criam projeto audacioso, que interliga área da Estação Barracão até a antiga Cianê
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Um projeto criado por alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda prevê a recuperação de uma área degradada de 24 hectares, localizada na avenida Eduardo Andrea Matarazzo (Via Norte), entre a Estação Barracão, da extinta Companhia de Estradas de Ferro Mogiana (1900-1971) e a antiga fábrica da Cianê (Companhia Nacional de Estamparia). Os dois locais fazem parte do patrimônio histórico do Município e do Estado.
A proposta de intervenção atinge as duas margens do ribeirão Preto, em parte dos bairros dos Campos Elíseos e Ipiraga, na zona Norte da cidade. Na margem Oeste, está prevista a criação de um centro cultural na Estação Barracão, a utilização das antigas linhas férreas como base para a criação de um dos dois parques lineares, implantação de uma área de habitação social, uma passarela sobre o curso de água e uma ciclovia.
Na margem Leste a proposta é criar um grande parque e, na área da Cianê, o surgimento de um complexo que englobe uma horta urbana comunitária, aglofloresta, centro gastronômico com cozinha comunitária e um edifício de assistência social.
Ali, uma das ideias é fazer com que as pessoas possam "trocar o trabalho na horta ou em outros equipamentos, por vagas nas moradias de interesse social.
Faixas de rodagem
Uma das ideias mais audaciosas do projeto do Moura Lacerda é a exclusão de faixas de rodagem da Via Norte. "As tres faixas não são necessárias para a quantidade de fluxo que recebem. Propomos a retirada de uma delas, de cada lado, para transformar em calçadas, uma ciclovia de cada lado, em conjunto com o aumento de iluminação pública e decks de madeira. O resultado e uma via mais iluminada e adequada para o pedestre", disse o aluno Fábio Grile.
Etapas
- A implantação do projeto está prevista para ocorrer entre 2020 e 2033;
- A primeira, entre 2020 e 2027, prevê a instalação de um plano de mobilidade e intervenção nas margens do córrego, a readequação da ciclovia e a requalificação da sinalização;
- Entre 2027 e 2030 prevê-se a intervenção na Cianê e relocação de moradores de rua para habitações de interesse social e outras pessoas que necessitem;
- Entre 2030 e 2033, a ideia é revitalizar a linha férrea para a implantação de um espaço cultural e parque linear. Finalmente, a partir de 2033, a ideia é inserir o parque e a recuperação da biodiversidade.
Pós-projeto é fundamental
Para o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Moura Lacerda, André Avezum, e a orientadora do projeto, Rosa Farias, a sobrevivência de um projeto como o desenvolvido pelos alunos depende do que vem depois. "A palavra-chave é dar condições de uso. Se não houver gestão pós-projeto, por parte da administração pública, não há milagre", afirmou Avezum.
"Só o projeto não salva nada, pode funcionar durante algum tempo, mas a longo prazo não se salva nada. Então, é preciso que, ao lado da ideia, seja feito o acompanhamento, por parte do poder público, e a implantação de programas sociais, sobretudo de estímulo à geração de emprego. Se isso não acontecer, por melhor que seja o projeto, não progride", afirmou Rosa.
Os dois professores de Arquitetura e Urbanismo também destacaram a importância de se criar canais de comunicação mais permanentes entre centros produtores de conhecimento, como as universidades, e a Prefeitura, como forma de se desenvolver projetos mais completos para a cidade.
Ideia integra história com requalificação
Na elaboração do projeto, os alunos entrevistaram uma antiga funcionária da Cianê, também moradora dos Campos Elíseos, cuja frase resume o espírito do trabalho. "Pra mim isso é pior que uma morte, porque na morte você sabe que a pessoa vai, e isso aqui devia ser conservado.
De acordo com a aluna Andresa Tostes, o ponto de partida da intervenção foi recuperar a importância do patrimônio histórico a partir da requalificação de parte dos Campos Elíseos e Ipiranga. Os dois bairros decorrem da passagem dos trilhos da Mogiana pelo local, com a criação da Estação Barracão, e, posteriormente, abrigaram a maioria da mão de obra imigrante que veio para Ribeirão Preto trabalhar na colheita do café, entre o fim do século 19 e o início do 20.
"Mas, ao mesmo tempo em que pensamos na memória da cidade, também propomos a ocupação dos diversos vazios urbanos que existem na região. As duas ideias coexistem no projeto", completou.