Parques de Ribeirão Preto sofrem com abandono

24/02/2018 08:48:00

Sobra lixo e falta segurança nos parques das regiões Norte e Oeste da cidade, um cenário desolador de abandono e perigo para os frequentadores

 

Esta semana, a equipe de reportagem do A Cidade percorreu os parques Tom Jobim e Rubem Cione, nas zonas Norte e Oeste, respectivamente. Os locais, criados para oferecer alternativas de lazer gratuitas à comunidade daquelas áreas, mostraram exatamente o oposto: um cenário desolador de abandono e perigo para os frequentadores. Moradores ouvidos pelo jornal, em ambos os casos, apontam os parques como locais de abrigo de criminosos e de usuários e traficantes de drogas. Leia a seguir o que a nossa reportagem presenciou nos parques Tom Jobim e Rubem Cione e que os seus frequentadores relatam. 

Cenário desolador no Tom Jobim  

O que era para ser uma área de lazer no Jardim Procópio, zona Norte de Ribeirão Preto, tornou-se retrato do descaso do poder público e da população. No Parque Tom Jobim, o alambrado rompido e o lixo espalhado pela grama e apodrecendo as águas do lago entristecem e desanimam os visitantes.  

E as irregularidades não param por aí. Pedaços de madeiras com pregos expostos, estruturas de metais enferrujadas e carcomidas pela ação do tempo e das chuvas se tornam verdadeiras armadilhas para as crianças que brincam pelo local.  

A quadra de esportes coberta está sem nenhum equipamento e ocupada apenas por pombas e poças dágua. O chão, apesar de ser de cimento, está tomado por terra.  

Até os quiosques são usados como guarda-roupas pelos moradores de rua que dormem no local. Um cobertor foi flagrado pela reportagem escondido no teto de madeira da barraca.  

Antônio da Silva, 55 anos, diz que a cena é comum. «As pessoas usam esse lugar apenas para o que não pode. É pra dormir, pra nadar e correr risco de morte», destaca o comerciante.  

Contudo, o que realmente incomoda os visitantes do entorno é a insegurança. Antenor Mendes, 69, ainda frequenta o espaço, mas já foi atropelado por dois ciclistas em um trecho da pista de caminhada. O acidente aconteceu há cinco meses, mas as marcas do ferimento estão expostas em seu tornozelo esquerdo.  

«Acho que eles estavam fugindo de alguém, porque caíram e já saíram correndo. Eu fiquei mal, mas esse é o único parque que temos na região e ainda é muito mal cuidado. Agora, o que mais me faz falta são os banheiros, que não existem», destaca o morador do bairro Heitor Rigon.  

Apesar de o lago estar cheio de lixo, Antenor também ressalta que há gente que ainda pesca no local e muitas crianças se arriscam a nadar, mesmo sem saber o que pode ter no caminho. "É um perigo." (Júlia Fernandes)   

"As pessoas usam esse lugar apenas para o que não pode. É para dormir, para nadar e correr risco de morte", diz Antenor Mendes, 69, aposentado (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

Outro lado 

Por meio de nota, a Coordenadoria de Limpeza Urbana informou que uma parceria foi firmada através do programa "Verde Cidade", entre a Prefeitura Municipal e a Construtora Pacaembu para obras de recuperação e revitalização do espaço. A administração não informou, porém, o prazo para início das reformas e melhorias. 

Rubem Cione abriga drogados e criminosos  

Cercado por árvores e com um riacho de água natural, o Parque Ecológico Rubens Cione, no Jardim Paiva, região Oeste, tinha tudo para ser um dos mais belos cartões postais da cidade. Mas, em vez disso, a área pública se transformou em uma floresta abandonada, habitada apenas por usuários de drogas e criminosos e usada como esconderijo de produtos de furto e roubo.  

Mato alto, lixo e entulho dominam até a calçada externa do espaço, prometido para ser um grande complexo de lazer, esporte e diversão para os moradores da região.  

Enquanto o projeto não sai do papel, quem se esbalda no espaço que está fechado para a população são a galinhas e cachorros, que circulam pela área livremente.  

"O povo não respeita, joga lixo. Nem o mato a prefeitura consegue cortar. É um absurdo, está tudo abandonado", disse o funileiro Saul Felipe Moreira, 25, morador e dono de uma oficina próxima.  

Faltam portas e janelas, mas sobram baratas e lixo na guarita da entrada. Apesar da sujeira, um colchão no chão indica que tem gente usando o espaço como moradia. Para os vizinhos, os únicos habitantes do espaço hoje são usuários de droga e criminosos.  

"Ali embaixo tem uma casinha, que serve de ponto de apoio para os usuários de droga. Sem contar, que os criminosos praticam roubos no bairro e escondem os objetos lá. Tenho muito medo pois moro bem perto", disse a auxiliar de limpeza Débora de Assis Garcia, 42.  

Moradores reclamam que o parque seria a única opção para a prática de esportes e lazer na região. Muitos ainda se arriscam fazendo caminhadas em seu entorno, porém a auxiliar de produção Tatiane Cristina de Oliveira, 29, diz ter sido vencida pelo medo.  

"Não tem segurança. Eu fazia caminhadas todos os dias com minha cunhada, mas olha o tamanho deste mato. A gente tem medo de assalto. Não temos nenhuma opção de lazer aqui no bairro.", diz. (Neto Túbero, com supervisão de Rita Magahães)   

"O povo não respeita, joga lixo. Nem o mato a prefeitura consegue cortar. É um absurdo, está tudo abandonado", diz Saul Felipe Moreira, 25, dono de oficina (foto: Weber Sian / A Cidade)

Outro lado 

A Prefeitura de Ribeirão Preto informou que o Parque Ecológico Rubem Cione está na programação da Coordenadoria de Limpeza Urbana e a previsão é que, até o final deste mês, ocorra a limpeza do local.  

Quanto à data para o início das obras de construção e revitalização do parque, a Prefeitura não deu detalhes. Informou apenas ter realizado obras no ano passado, adicionando grades, estacionamentos recuados e implantação de grama em uma parte da área. Sobre a falta de segurança no local, a administração informou que a Guarda Civil Municipal faz rondas periódicas no local, assim como a Polícia Militar.  

Análise  

Falta organização e sobra sujeira nos parques 

"O meio ambiente nunca foi uma prioridade nas gestões de Ribeirão Preto. Aqui, podemos falar que a questão é problemática, com falta de investimentos, apesar de os parques serem equipamentos indicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para o bem estar da população. O resultado são os pontos destacados nas reportagens: falta organização e sobra sujeira.
As parcerias firmadas entre o poder público e empresas privadas são limitadas e, na maioria das vezes, visam apenas a arborização. A explicação para isso é simples: obrigação de cumprir a compensação ambiental. E precisamos de mais que isso. Sem contar a elitização dos parques também neste processo.
Geralmente, as áreas da zona Sul são mais bem cuidadas, e quem sofre são os moradores das regiões mais periféricas, até mesmo pela quantidade de espaços disponíveis e, principalmente, pela limpeza urbana. Nesse quesito, também há a falta de educação. Os munícipes precisam ter em mente que a responsabilidade dos próprios públicos é da prefeitura, mas obviamente a população é corresponsável por esses bens. Todos podem e devem cooperar e manter a função principal dos parques, que é aglutinar pessoas e promover o lazer da cidade, com mais verde".




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