Metade das mães de Araraquara teve filhos até os 21 anos

05/03/2015 09:32:00

Pesquisa realizada pela Unesp, com 401 mulheres, mostra dados sobre maternidade

Deivide Leme
Amor de mãe Isabela Felicio ficou grávida de Manuela quando tinha 20 anos; hoje, filha está com quatro anos

Aos 15 anos, Gislaine Aparecida Iter Elias Rugno, hoje com 32, descobriu que estava grávida. Tanto ela quanto o namorado, Francismauro, tiveram que abandonar a escola por conta do filho. Na época, o apoio dos pais foi essencial. “Como eu era muito nova, não tinha noção direito da responsabilidade que era ter um bebê, mas a ajuda da família nessa hora é muito importante”, recorda ela.

A história de Gislaine não é um caso isolado em Araraquara. Segundo pesquisa feita pelo Nueva (Núcleo de Estudos sobre Situações de Violência e Políticas Alternativas), do Departamento de Sociologia da Unesp, quase metade das mães araraquarenses teve filho quando tinha entre 16 e 21 anos.

Cada gravidez não planejada, ainda mais na adolescência, tem um impacto diferente na vida da mulher. 

Arquivo Pessoal
Josiane e a filha Bianca, que nasceu quando ela tinha 28 anos

No caso de Gislaine, ela diz que foi uma história feliz. “Infelizmente, a gravidez não foi planejada, mas nosso amor foi puro e verdadeiro, então ficamos felizes com a notícia. Tive o apoio do meu esposo, que na época era namorado, sempre ao meu lado nos momentos difíceis, um ajudando o outro a amadurecer.”
Depois de um tempo, Gislaine e Francismauro voltam a estudar. Aos 28 anos, o casal planejou a segunda gravidez, e veio Bianca Renata, hoje com 4 anos.

PESQUISA - Segundo o cientista social José dos Reis Santos Filho, um dos idealizadores da pesquisa, 401 mulheres foram entrevistas. “Dividimos a cidade em 18 regiões e fizemos entrevistas em todas as áreas, então, esses dados são correspondentes às 80 mil mulheres de Araraquara que têm entre 16 e 69 anos. Cerca de 70% desse total é mãe”, explica.

A pesquisa, intitulada “Maternidade e Condições de Vida da Mulher”, foi realizada em novembro, em um período de duas semanas.

Os dados foram divulgados na segunda-feira (2/3), na plenária da Câmara de Vereadores. Durante a entrevista, foram feitas cerca de cem perguntas, divididas em 11 módulos, sobre diferentes aspectos e condições de vida da mulher araraquarense.

16 anos - Um dos dados que surpreenderam os pesquisadores foi o aumento da participação do grupo mulheres que disseram ter sido mães com até 16 anos. Houve um crescimento de cerca de 9%.

Arquivo Pessoal
Josiane e o filho Caio, que nasceu quando ela tinha 15 anos

O resultado da pesquisa também mostra que o número de mães que têm dois filhos diminuiu e que, cada vez mais, as mulheres estão optando por ter filho depois dos 30 anos. O dado mais alarmante, porém, é o que mostra que quase 50% das mães tiveram filhos quando tinham até 21 anos.

“Isso é absolutamente preocupante, ainda mais se levado em consideração o fato de as mulheres estarem cada vez mais preocupadas em entrar no mercado de trabalho”, avalia Reis.

MÃE AOS 20 - A administradora Isabela Felicio, de 25 anos, ficou grávida aos 20 e só descobriu que ia ser mãe quando a gestação já estava no sexto mês. “Não foi planejada, tanto que descobri só depois. Para ela nascer foi um pulo, então a fase da gravidez eu nem percebi passar”, conta.

Na época, ela fazia faculdade de agronegócio na Fatec de Taquaritinga e teve de abandonar o curso. “Eu estava no último ano, ficou faltando terminar três matérias e o TCC. Acho que a única coisa que eu teria feito se não tivesse engravidado seria mudar de cidade. Acabei voltando para Araraquara e ficando perto da minha família. Vim trabalhar na empresa do meu pai e ficava difícil viajar.”

Quando sua filha, Manuela, nasceu em agosto de 2010, Isabella achou que a adaptação seria mais complicada. “Adorei tudo que minha filha trouxe, eu era meio imatura, mudei muito por ela. Namorei quatro anos com o pai da minha filha e não estamos mais juntos. Eu namoro e ele também, temos uma ótima relação e nos damos superbem. Planejamos as festas de aniversários juntos e unimos todas as famílias.”

O apoio da família também foi importante para Isabella. “Sempre digo que tenho muita sorte. A Manuela tem quatro avós e quatro bisavós. Tenho os quatro avós vivos, todos trabalham e são saudáveis, então imagina como foi, todos paparicaram muito ela e me ajudaram muito”. Isabella adora criança e não vê a hora de poder ter outros filhos. “Mas, de agora em diante, todos serão planejados”, brinca.



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