Rebaixado pela quarta vez em seis anos, Leão atinge o pior momento de sua história e terá de disputar a última divisão
O passado assombra o presente. Há seis anos, em abril de 2012, o Comercial tinha o seu rebaixamento no Paulistão matematicamente confirmado. Começava ali um calvário que nunca será apagado da história comercialina. Série A2, Série A3 e, agora, a Segunda Divisão, equivalente à quarta e última série do Estado. Quedas sucessivas. Quatro rebaixamentos em seis anos e um prejuízo financeiro e moral incalculável.
“Foi incompetência de todos nós, dimensionamos mal a competição”, declarou o presidente do Conselho Deliberativo, David Isaac. O rebaixamento foi consumado no último domingo, quando o time empatou com o Flamengo por 1 a 1, em Guarulhos, e fechou a A3 em 15º lugar.
Na avaliação de Rangel Scandiuzzi, presidente do Comercial entre 2010 e 2011, a queda para a Segundona pode ser considerada uma tragédia anunciada. “Era algo que infelizmente sentíamos que poderia acontecer”, analisou. De acordo com o ex-dirigente, o Comercial precisa de uma reformulação drástica para voltar aos tempos de glória. “O Brenno não é o único culpado, mas é preciso ter pessoas no clube que conheçam futebol, não adianta querer ser presidente para contratar jogador. A forma de fazer futebol mudou muito, na época que ele dirigiu o Comercial pela primeira vez [entre 1978 e 1980], o clube tinha receita e credibilidade”, lembrou Scandiuzzi.
Apesar do momento caótico, Isaac não vê o Comercial encerrando as atividades. “Ficamos 25 anos fora da primeira divisão, nem por isso acabamos, é preciso reavaliar a filosofia.”
Thiagão condena parte do time
Titular do Comercial em 18 dos 19 jogos na Série A3 do Paulista, o zagueiro Thiagão não escondeu sua insatisfação com o rebaixamento para a última divisão. Em entrevista ao A Cidade, o jogador não poupou os companheiros de time e criticou a postura deles fora de campo, com envolvimento com bebidas.
“A maior dificuldade foi que muitos atletas não conseguiram se controlar com a bebida fora de campo. Qualquer um conseguia ver nos jogos o comprometimento de alguns, por outro lado, outros [atletas] apresentavam uma passividade enorme. O elenco tinha qualidade, mas como equipe éramos uma m...”, desabafou o jogador. Sem citar nomes, Thiagão revelou à reportagem que boa parte dos jogadores do elenco passava o tempo livre consumindo bebida alcoólica.
“O problema era a bebida mesmo, cada um tem o direito de fazer o que quiser na folga, mas para muitos era folga todo dia. Espero que o clube faça uma avaliação de cada atleta para que alguns não sejam injustiçados por causa de outros. Tenho uma família para sustentar como outros que se dedicaram durante o campeonato”, concluiu.
O presidente Brenno Spinelli condenou as declarações do jogador. “Se alguém cometeu algum deslize foi sem o nosso conhecimento, creio que seja uma forma do Thiagão se eximir”, afirmou Spinelli.
Derrocada teve início em 2012
O inevitável, infelizmente, aconteceu. A queda do Comercial para a última divisão do Estado fecha um ciclo de rebaixamentos e sofrimentos para o torcedor comercialino. A derrocada do Alvinegro começou com o descenso da Série A1 para a A2, em 2012.
Em 2014, o Leão amarguraria mais um rebaixamento. Afundado na crise financeira, o Comercial caiu para a Série A2 um ano após ter voltado à elite. Em 2015, outra triste campanha. Ainda sob gestão da Lacerda Sports, o Leão terminou a Série A2 na 17ª colocação e foi rebaixado para a A3. E lá ficou até o último domingo, quando protagonizou o maior vexame em seus 106 anos de história.
“Temos a consciência da gravidade do momento. As direções mudam, as dificuldades foram tantas que chegamos a esse desfecho”, declarou Brenno Spinelli, que seguirá na presidência do Comercial até outubro deste ano.
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