Família Kamensek chegou ao país para fugir da guerra

14/07/2018 11:34:00

Os croatas têm um civismo destacado e uma vontade de vencer que é muito grande em todos os sentidos", disse Andrea Pereira Kamensek

Croácia: Os integrantes da família Kamensek estarão todos juntos na torcida pela seleção croata na final da Copa do Mundo (Foto: Weber Sian / A Cidade)
A Croácia entrou para a história das Copas do Mundo ao tornar-se a primeira seleção a resistir a três prorrogações até chegar à decisão do torneio deste ano, na Rússia.  

A resistência e o espírito de luta de Modric, Rakitic, Mandzukic e companhia são marcas atribuídas a um povo que desde sempre se acostumou a lutar bravamente pela sobrevivência.

Um exemplo disso pode ser visto em Batatais, cidade a 44 km de Ribeirão Preto. Lá encontramos a família Kamensek, que se estabeleceu no Brasil devido à coragem de Rudolf Kamensek.

No final de 1949, quando ainda tinha 18 anos, o croata se viu obrigado a deixar a cidade natal, Zagreb, por causa das perseguições de um regime político e das ameaças da Segunda Guerra Mundial.

"A fuga dele aconteceu por causa do regime de comunismo na Rússia. Eles passavam muita necessidade. Tiveram confiscados todos os bens deles e não tinham como se alimentar direito. Eles plantavam a comida nos jardins das casas para terem o que comer. Meu marido passou por momentos difíceis, perdeu muitos parentes na guerra e o povo da Croácia, que na época ainda era Iugoslávia, sofreu muito", afirma a viúva de Rudolf, Maria Therezinha Cinquini Pereira Kamensek, 80.

Sem olhar para trás

Escapar de Zagreb em guerra exigiu também do croata disposição de não olhar para trás. "Quando meu pai deixou Zagreb não pôde sequer avisar a mãe e o pai dele.

Ninguém da família poderia saber, porque o comunismo era tão horrendo que eles eram pressionados a falar onde estavam. Era uma luta desigual e quem fosse para a guerra sabia que ia morrer.

Quando tudo acabou e os exilados ganharam a anistia, meu pai não teve condições de voltar. Ele faleceu em 1984 sem ter a chance de rever a família na Croácia", lembra Andrea Pereira Kamensek, filha de Rudolf e Maria Therezinha.

Vida nova em solo brasileiro

Antes de chegar ao Brasil, Rudolf ainda passou um tempo em Trieste, na Itália. Após longa viagem de navio saindo do continente europeu, chegou ao Rio de Janeiro e, posteriormente, mudou-se para Belo Horizonte.

Especialista na arte de afinar instrumentos, começou a trabalhar para igrejas na cidade mineira. Pouco tempo depois foi morar em São Paulo, onde conheceu e se casou com Maria Therezinha. Na capital paulista iniciou uma empresa do ramo fotográfico do zero e trouxe todo o sonho de uma vida nova para a cidade de Batatais, onde hoje mora a família.

Os quatro filhos de Rudolf seguem com os negócios e também se dedicam a fazendas de plantação de café.

"Meu marido foi uma pessoa que batalhou muito na vida. Sofreu bastante durante a Segunda Guerra Mundial, mas se tornou um pai amoroso e enérgico e deixou uma família unida e orgulhosa de todo o legado que nos deixou. Os jogadores da Croácia têm esse espírito batalhador. Estamos todos torcendo para a Croácia porque eles merecem ter essa alegria de serem campeões", ressalta Maria Therezinha.



    Mais Conteúdo